Ao não afastar vice-presidentes investigados da CEF, Temer mostra como funciona o aparelhamento político das estatais
Notícia publicada dia 20/01/2018 19:58
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Duas decisões desse início de ano mostram muito do sistema político brasileiro.
Numa delas, a Caixa Econômica Federal decidiu aumentar em 37% o salário anual de seus 12 vice-presidentes em 2018. Eles ganhavam R$ 63.548,63 e passarão a R$ 87.398,94 mensais. O último reajuste dos bancários foi de 2,75%, abaixo da inflação do ano passado.
A segunda foi de Michel Temer. Ele decidiu manter nos cargos 8 vice-presidentes após pedido do Ministério Público e do Banco Central de afastamento dos 12 e de pedido de auditoria independente de investigação do presidente da Caixa. Os outro 4 foram afastados por 15 dias.
Os dirigentes do banco estatal são investigados sob suspeita de irregularidades em operações e risco de ingerência política, como vazamento de informações privilegiadas para políticos e negociação de cargo em uma estatal como moeda de troca para liberação de crédito, por isso o MPF e o BC pediram o afastamento. Mas foram mantidos por Temer e ainda receberam um aumento generoso.
Sabe por quê Temer não afastou os investigados?
Os cargos de vice-presidentes na Caixa e demais estatais entram no rol de negociações do governo com a base aliada em busca de apoio. A Presidência da República não afastou os investigados para não perder o apoio dos sete partidos que os indicaram.
Vale lembrar que, no momento, Temer busca desesperadoramente votos para aprovar a Reforma da Previdência. A investigação também citou os nomes de Moreira Franco, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, e do ex-ministro e, hoje, detento, Geddel Vieira Lima.
Paralelamente a isso, nas alegações finais do processo da Operação Sépsis, que investigou fraudes na diretoria do Fundo de Investimentos do FGTS, os procuradores da República afirmaram que o banco era ”uma espécie de ativo” da organização criminosa.
Fundos para eleições
Todo brasileiro sabe que a presidência e os altos cargos em estatais e órgãos públicos são moeda de troca na política. Os governantes os distribuem aos partidos aliados, que fazem de tudo para conseguir recursos para seus partidos e campanhas eleitorais. Isso é público e notório, mas continua impunemente no Brasil.
Você tem dúvida de é isso que está ocorrendo na Caixa? E que os investigados são mantidos porque está lá para isso mesmo, ou seja, para serem representantes do governo e de seus partidos e para arrumar jeito de garantir dinheiro para eles?
Fundo de garantia em risco
Na Caixa, está depositado o FGTS de milhões de trabalhadores que sonham, um dia, em adquirir uma casa própria ou usar os recursos para algo pessoal quando parar de trabalhar. Ao mesmo tempo, é a principal financiadora da habitação popular e, portanto, empresta recursos para que esses mesmos sonhos sejam adquiridos. Isso para citar apenas alguns dos programas bancados com recursos gerenciados pelo banco. É um desgosto gigante, portanto, que ela continue sendo uma grande Casa da Mãe Joana.
Lama no Planalto Central
Este governo não caiu porque comprou os votos dos quais precisava para rejeitar duas denúncias no Congresso Nacional contra ele. Liberou cargos e emendas mas, principalmente, apoiou a aprovação de leis e o perdão bilionário de dívidas que beneficiam os próprios parlamentares e seus patrocinadores. Usou esses e ouros meios bem criativos.
Ao mesmo tempo, o governo afaga o Pato Amarelo da FIESP. Tem sido competente para aprovar uma agenda de reformas que reduz os gastos com a proteção aos trabalhadores mais pobres e suas famílias a fim de garantir a manutenção de políticas que beneficiam os negócios dos mais ricos.
E tira a fatura pela crise do colo dos mais ricos, evitando mudanças tributárias guiadas por justiça social e redistribuição. E como não houve consenso sobre quem ou o quê iria para o lugar de Temer, tudo ficou como está.