Carteiros convivem com baixos salários, sobrecarga e insegurança
Notícia publicada dia 26/01/2023 12:34
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No ABC trabalham cerca de 400 carteiros que, como os demais colegas que atuam em outras regiões do país, sofrem com baixos salários e sobrecarga de trabalho. Mas na região há um problema a mais que aflige a categoria, a falta de segurança. Segundo o Sintect-SP (Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo), a insegurança traz problemas psicológicos para os profissionais que já convivem com a desvalorização da categoria. Apesar disso a profissão é ainda muito requisitada, pois apesar de não se mandar mais cartas como antes as encomendas cresceram muito, principalmente com a pandemia da covid-19.
Nesta quarta-feira (25/01) foi comemorado o Dia Nacional do Carteiro. Para o diretor de comunicação do Sintect-SP, Douglas Melo, apesar do orgulho da profissão, há muitos mais desafios do que motivos de comemoração. “Mesmo com menos cartas, os carteiros entregam ainda muitas faturas, boletos, telegramas, documentos e encomendas, mas a categoria está envelhecida, tem profissional com 60 anos entregando carta na rua, porque não há um plano de carreira e não há concurso para a reposição de pessoal há 11 anos. O carteiro tem diversos problemas de saúde decorrentes da função, principalmente nos joelhos”, diz o sindicalista.
Em todo o País são cerca de 50 mil trabalhadores, que percorrem todo o território para entrega de correspondências e encomendas. Um trabalhador com cerca de 20 anos de carreira recebe atualmente R$ 4,5 mil bruto, em média. Descontadas as contribuições, o trabalhador fica com menos de R$ 3 mil para as despesas. Segundo Melo, o salário baixo e as dificuldades inerentes da profissão, como andar de 8 a 20 quilômetros por dia, somadas à insegurança, não tornam a profissão atrativa para os jovens, ainda que tivessem sido abertos concursos públicos.
Melo diz que o trabalhador tem uma sobrecarga muito grande, há setores em que o contingente reduziu tanto que um carteiro faz o trabalho antes feito por quatro. Para dar conta os Correios criaram o DDA (Distribuição Domiciliar Alternada), tipo de rodízio entre os bairros atendidos. “Por exemplo, se temos 30 distritos para atender e apenas 20 carteiros, 20 áreas são atendidas e a terceira fica sem entregas e ela passa a ser atendida no período seguinte. Isso é ruim para a empresa e ruim para quem precisa do serviço”, diz o sindicalista.
Os carteiros se dividem em grupos, os carteiros pedestres, que são aqueles que andam a pé pelas ruas, e os que entregam as encomendas em vans ou em motocicletas. O que muda é a faixa salarial, quem trabalha motorizado ganha R$ 260 a mais, o que é considerado um valor muito pequeno. “Hoje ninguém quer trabalhar dirigindo porque a responsabilidade é muito grande e o risco de ser assaltado é muito maior”, diz Melo.
Segurança
A segurança está entre os principais problemas da categoria, vindo logo depois dos bairros salários e da sobrecarga de trabalho. “Conversei com um carteiro que atua na Grande São Paulo e que já foi assaltado 49 vezes, ele está traumatizado e não pode nem se afastar para se tratar, porque se fizer isso não vai ter como pagar as contas, então trabalha com medo”, conta o diretor do Sintect.
Em uma dessas ocorrências, publicada pelo RD em novembro de 2021, três homens foram presos pela Polícia Militar quando tentavam fugir com uma van dos Correios que haviam roubado. O carteiro-motorista foi feito refém. Na tentativa de fuga da PM, os bandidos bateram e capotaram o carro (foto). O motorista foi libertado e os três suspeitos presos.
O ABC divide com Osasco e a Zona Sul da Capital, o posto de região mais violenta para o trabalho dos carteiros, segundo o Sintect-SP. “Tem bairros de Diadema e de São Bernardo em que o motociclista não pode ir, é proibido, porque na certa vão roubar a moto, então o morador tem que ir até a agência do Correio para retirar a encomenda”. A sobrecarga também é grande na região que chegou a ter 800 trabalhadores, o dobro do que tem hoje, segundo estimativa de Melo. “O ABC foi muito impactado pela redução de pessoal”, comenta o diretor.
Privatização
O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou reduzir o tamanho dos Correios para privatizar o serviço e pode estar aí a razão para a redução do quadro de funcionários. Para o Sintect-SP ainda bem que esse processo de privatização não aconteceu. “O presidente Lula suspendeu a privatização e ficou de avaliar a possibilidade de realizar concurso. Os Correios precisam manter a sua essência pública, se for privatizado se acaba com o subsídio cruzado, ou seja, com o atendimento no mesmo padrão em todas as cidades do país. Hoje a grande maioria dos municípios não consegue se manter com a sua receita própria, depende do Estado, com a privatização vai ser mais interessante atender a regiões mais ricas. E os demais lugares, como ficam? Porque os carteiros não entregam só cartas, entregam comida, leite para comunidades carentes e distantes, então temos grande esperança com esse governo, até porque a empresa teve um dos maiores lucros da sua história em 2022”, completa Douglas Melo.
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