Consciência Negra: lutar contra o racismo e por uma sociedade igualitária ao mesmo tempo
Notícia publicada dia 20/11/2017 11:08
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Em 20 de novembro de 2017 completam 14 anos que foi instituído o Dia Nacional da Consciência Negra. Muito se avançou, mas há muito por se fazer. Como na música de Arnaldo Antunes, quando estava nos Titãs, “tudo ao mesmo tempo agora, uma coisa de cada vez”.
Assim se coloca o combate ao racismo na visão de Mônica Custódio, secretária de Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). “As negras e os negros brasileiros vêm combatendo a desigualdade e o preconceito desde que os seres humanos escravizados foram trazidos à força para o país”.
A data foi escolhida para homenagear Zumbi, morto em 20 de novembro de 1695, pela coroa portuguesa. Ele foi o último líder do mais longo quilombo da história do Brasil, na Serra da Barriga, na região onde hoje é Alagoas.
“Zumbi e sua companheira Dandara são heróis do povo brasileiro, mas a história ‘oficial’ visava escondê-los com intuito de invisibilizar a herança cultural, social, política e de formação da nação e do povo brasileiro dos povos que foram arrancados da África para serem mão de obra escrava no Brasil”, afirma Custódio.
Ouça “A Carne”, de Seu Jorge
Ela explica que o Brasil possui uma das maiores populações negras do mundo. “De acordo com o IBGE somos mais da metade da população”. Lembra também as mulheres representam 52% da população, mas têm aproximadamente 10% de representação no Parlamento. “É muito pouco para mudarmos este país como ele precisa”.
Mesmo assim, “a população negra é invisível para a nossa sociedade e com o governo golpista de Michel Temer a situação está retrocedendo há décadas passadas”, diz Celina Arêas, secretária da Mulher Trabalhadora da CTB. Em relação às mulheres a sindicalista mineira afirma que a situação é idêntica, mas para as “mulheres negras existem muitos agravantes”.
Custódio realça que o assassinato de negras cresceu 54% nos últimos anos e como mostram os índices do Ligue 180 (feito para denúncias de violência de gênero), elas são as maiores vítimas de violência doméstica, representando 58,8%.
Nos atendimentos prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), as denúncias de racismo são aviltantes. No caso de violência obstétrica, as negras são 65,9% das vítimas, como aponta a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Arêas lembra ainda que no mercado de trabalho as mulheres negras que representam 25% da população brasileira, estão na base da pirâmide e exercem as funções de menor qualificação. “Mesmo com o aumento do nível de escolaridade, a população negra continua indesejada pelo mercado de trabalho”.
Zumbi, de Jorge Benjor
Como mostra o levantamento da Oxfam Brasil – “A distância que nos une” – as negras e os negros recebem 50% a menos que as brancas e os brancos. E, explica Custódio, “ainda somos quem perde o emprego primeiro e temos mais dificuldade de recolocação”.
O relatório da Oxfam aponta ainda que no ritmo atual a população negra somente conseguirá equivalência salarial com a população branca em 2089. “A gente fez um cálculo da média da equiparação salarial entre negros e brancos de 1995 a 2015 e projetou o resultado para saber em quanto tempo, seguindo o ritmo desses 20 anos, se chegaria à igualdade de salários”, explica Rafael Georges, cientista político e coordenador de campanhas ONG.
Mas celebra-se o Dia Nacional da Consciência Negra “num momento em que o país atravessa uma de suas maiores crises. Onde o racismo estrutural se reapresenta com formato moderno de flexibilização das leis trabalhistas, tornando-nos praticamente escravos da ganância do capital sobre o trabalho, que visa lucro acima de tudo”, complementa Evandro Vieira, do Coletivo da Igualdade Racial da CTB.
Já Cláudia Vitalino, dirigente da CTB-RJ afirma que, por isso, “a consciência negra deve desacorrentar a alienação do ‘não ser’. Consciência que gira na auto-afirmação e do auto-reconhecimento de cada um de nós, tendo um valor histórico que vai de encontro a toda ideologia que nos foi empurrada goela abaixo durante 500 anos de nossa história”.
As Caravanas, de Chico Buarque
Custódio conclui que as manifestações das negras e dos negros acontecerão em todo o país para denunciar a opressão. Neste Dia Nacional da Consciência Negra “estaremos refletindo sobre a sociedade que almejamos. Uma sociedade sem discriminações, igualitária, onde qualquer pessoa possa ser o que quiser ser, possa sonhar e realizar seu sonho. Onde não haja miséria, nem intolerância de espécie alguma, onde a juventude tenha seu espaço e onde possamos viver e amar sem medo”.
Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy