Correios: Crise ou Dificuldade Financeira?
Notícia publicada dia 28/06/2017 14:57
Tamanho da fonte:
O fato dos Correios informarem supostamente não ter obtido sucesso em seus negócios nos últimos anos, em decorrência dos efeitos da crise e redução do serviço postal, não afasta a responsabilidade do Governo e a garantia dos direitos de seus empregados. Portanto, a empresa não pode e nem deve deixar de cumprir suas obrigações trabalhistas sob alegação de motivo financeiro, isso significaria transferir a culpa pela má gestão para o empregado.
Déficit, reserva financeira esgotada, não reajuste nos valores dos serviços postais, redução no número de objetos postais, fundo de pensão, crise na política, falta de investimento, prejuízos, convênio médico, indenizações para clientes, redução de quadro e má gestão nos últimos. Infelizmente essa combinação reflete drasticamente em todos nós trabalhadores ecetistas.
Entretanto, não consigo enxergar culpa se quer dos trabalhadores e nem tão pouco do movimento sindical em ver essa grande estatal, presente em todos os municípios brasileiros na atual situação. Há como enfrentar os impactos e evitar o caos na instituição?
Ao ler até agora, o trabalhador deve estar pensando novamente: “Lá vem essa conversa de crise novamente”. Porém não é bem isso.
Infelizmente, todas as certezas parecem ruir quando os diretores da ECT que nos conduzem patinam, uma das maiores empresas nacionais perdem força com seus vários dirigentes indicados politicamente, adotando políticas de austeridade, beneficiando visivelmente às empresas privadas para que elas ocupem o espaço vago pela deficiência da estatal – na empresa de grande magnitude – dá mostras de finitude. E, o maior patrimônio da população brasileira apresenta uma fortaleza despencando, em ruínas, intolerante, enxuta a cada momento devido aos ataques constantes dos atuais administradores que nada conhecem de Correios.
Logo no extremo oposto, os trabalhadores encolhem-se na poltronaria e na temeridade. Muitas das vezes, não por culpa dele, mas esse é o retrato da crise propagada pelo atual governo – apenas nas estatais – daí para a paranoia basta um pulo. Somos invadidos por muitos pensamentos do tipo: “ Vou ser demitido e perder o meu emprego”, “Greve nesse momento é ruim para a empresa”, “Não quero que deconte meu dia de greve”, “Greve pra quê, não adianta nada”, “Tenho medo do que pode acontecer depois da greve”. Essas frases escutamos diariamente nos locais de trabalho. Se formos analisar um pouco, essas reflexões que a ECT impõe aos funcionários, está mudando o comportamento, transpondo um mar revolto e ao mesmo tempo de omissão e medo.
Posso ser até otimista demais, em dizer que essa empresa pode voltar a crescer e não ser privatizada, muitos dirão que estou equivocado. Porém, volto a afirmar que não há motivo para pânico, mas para cautela. Atravessar por um momento de crise é como dirigir sob intensa nebulosidade: não se pode parar na estrada porque a vida segue, mas é preciso ir devagar com os gastos.
Não vejo tanta urgência em tomar medidas tão drásticas, principalmente, quando o maior atingido é o trabalhador. A ECT não está quebrada como propagandeia o atual presidente da estatal. A reestruturação da empresa jamais foi feita quando ela divulgava seus recordes de arrecadação e de faturamento, querem impô-la diante de um cenário nacional, onde o discurso principal e que muitos trabalhadores acabam concordando é de crise e retirada de direitos históricos.
Avalio que se deve começar por outros meios, entretanto, é a hora de repensar os gastos e preparar-se para outros cenários. Não é fechando agências que são fontes arrecadadoras de receita, que a empresa irá recuperar sua receita. Irei apontar agora, alguns itens fundamentais para a recuperação do prestígio e credibilidade da ECT perante a toda sociedade:
1.Buscar e apresentar novos produtos, inovando na prestação serviços, se diferenciando daqueles com que está acostumada a competir;
2.Investir na infraestrutura das unidades, ampliando sua rede de atendimento, permanecendo presente em todos os municípios do país. Avaliando o que já tem e expandir o atendimento, é algo imprescindível neste momento;
3.Criar oportunidades e inovando nos anúncios em sites, TV e rádio;
4.Criação de fato de um banco exclusivo dos Correios;
5.Restabelecer aos cofres dos Correios os 6 bilhões repassados indevidamente à União;
6.Aprovar urgentemente o projeto da Deputada Maria do Rosário, onde todas as empresas do Governo utilizem apenas os serviços da ECT;
7.Valorização do profissional, concedendo reajuste salarial que equipare as perdas salariais dos últimos meses devido à crise econômica, de forma que reduza a estupida diferença salarial entre o menor e maior salário dentro da ECT;
8.Reavaliar todas as verbas de patrocínios, tendo em vista que muitos nem se quer trazem um retorno satisfatório para a imagem da empresa;
9.Ampliar o número de trabalhadores, realizando concurso público para poder preencher as lacunas existentes em quase todas as unidades dos Correios, evitando assim o pagamento de várias indenizações que tem prejudicado a imagem e os cofres dos Correios;
10.Apresentação detalhada do balanço financeiro da empresa, incluindo os gastos com o plano de saúde e outros gastos, de forma que traga transparência para toda sociedade o que de fato acontece na empresa mais antiga do Brasil.
Concluo, portanto, sem nenhuma dificuldade, afirmando que não existe crise na empresa de Correios. Diante de tantas contradições referente aos gastos na estatal, está mais do que perceptível e obsoleto o argumento também de dificuldade financeira. O atual governo adotou um discurso único em todas as empresas estatais e também junto a população brasileira, querendo a todo instante brincar com a inteligência dos trabalhadores.
Os ataques a classe trabalhadora continuam impetuosamente sem nenhum pudor, além dos retrocessos que esse governo vem impondo aos ecetistas, como o não pagamento dos 70% e suspensão das férias, demissão dos aposentados sem reposição de vagas, terceirização das atividades fim, ataques ao plano de saúde e propostas de entrega ao capital privado de serviços essenciais a população e que mantém o emprego de mais de 100 mil trabalhadores. Temos que lutar contra as reformas drásticas que se aprovadas irão estabelecer um retrocesso de anos a todos trabalhadores do país e suas futuras gerações. As reformas da previdência e trabalhista não podem ser aprovadas.
O trabalhador precisa entender que a crise não é uma obra nossa, mas fruto da conjuntura atual do país, mais precisamente de um golpe aplicado contra todos. E, há muitos modos de evitar que ela nos devore, e a principal delas é:
Não deixar de lutar, a greve é o nosso instrumento de luta principal.
Por Douglas Mello, Diretor de Imprensa do Sintect-SP e da FINDECT