Direção da ECT torra fortunas com contratos duvidosos. Pra quê?
Notícia publicada dia 18/12/2017 10:07
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Os Correios estão entupidos de trabalho. As unidades estão lotadas e em qualquer canto da cidade o povo reclama da demora nas entregas. A atual direção está acabando com a credibilidade da empresa e matando o ecetista de trabalhar, ao mesmo tempo em que quer acabar com direitos para economizar (é o que dizem). Tudo isso em nome de supostos déficit financeiro e crise que, pelo que se vê, é fabricado pela direção da empresa para justificar seu plano de privatização e resulta de anos de ilicitudes e má gestão.
Mas, enquanto isso, aparecem uns contratos estranhos e, para alguns, muito suspeitos.
O caso da Nexxera
Esse é tão tosco que levou os deputados da Frente Parlamentar em Defesa dos Correios e solicitarem abertura de investigação e processo à Procuradoria-Geral da República.
Veio a público a investigação de uma fraude em um contrato de 850 milhões nos Correios, encaminhada por Kassab e Guilherme Campos. “A fraude denunciada atinge um contrato milionário planejado por Campos e pelo agora ex-diretor de Finanças da estatal Francisco Arsênio de Mello Esquef, desligado em outubro, por causa das suspeitas, ao que parece. A denúncia foi enviada em agosto ao presidente do Tribunal de Contas da União, Raimundo Carreiro, e levou à abertura em setembro de uma investigação do TCU que corre sob sigilo, a 026.092/2017-A, aos cuidados da ministra Ana Arraes”.
Essa revelação está em artigo publicado na revista Carta Capital na primeira semana de dezembro desse ano. A revista também levanta a possibilidade da fraude estar ligada a arrecadação de recursos para a campanha eleitoral de Guilherme Campos. E diz mais:
”A tramoia ocorreria no coração dos negócios dos Correios, os serviços postais. O acordo suspeito prevê, entre outras coisas, a substituição da entrega de correspondências em papel despachadas por grandes clientes da estatal pelo envio digital. No lugar de caminhões, aviões e carteiros com encomendas pelo País, e-mails, por exemplo. Um serviço postal eletrônico.* Dá para acreditar nesse delírio insano de acabar com toda correspondência física e tornar tudo digital?
E a revista revelou mais: ”Para levar o plano adiante, os Correios fariam uma sociedade com uma empresa de tecnologia. Seria a Nexxera, de Santa Catarina, estado de um governador fiel a Kassab, Raimundo Colombo, do PSD. Uma escolha sem licitação. A grana envolvida é alta, 850 milhões de reais. Seria o valor pago pelos Correios à Nexxera por um trato de 12 meses. É quase 5% do faturamento da estatal em 2016, para gastar num único contrato. O negócio seria movido a suborno. A Nexxera teria oferecido “propina” a Campos e Esquef, “bem como a participação futura recorrente de 15%” das cotas da sociedade.”
O caso da ACCENTURE
Publicação do Diário Oficial da União de 6 de dezembro de 2017, página 16, trouxe o que segue:
Contrato 001/2-17 – Correiospar – Objeto: Contrato de serviços de consultoria técnica-especializada visando o assessoramento e orientação à CorreiosPar no processo de estruturação de negócios e de operações de M&A, entendido tal processo como aquisição de controle ou participação acionária, bem como outras formas associativas, a exemplo de constituição de joint ventures em empresas em atuação, não se limitando, em transporte e logística, serviços financeiros, serviços para o governo, e serviços digitais, discriminados, conforme projeto bárico e demais condições deste instrumento e seus anexos. CONTRATADA: ACCENTURE DO BRASIL LTDA. Valor global do contrato: R$ 44.400.000,00. Assinatura: 29/11/2017. Vigência de 30 meses, a partir da assinatura do contrato.
Depois disso teve um contrato aditivo de R$ 35,5 milhões, o que eleva o valor para R$ 79,9 milhões.
Perguntas sem respostas
Uma consultoria para a CorreiosPar num valor de R$ 79,9 milhões é estarrecedor. Essa consultoria seria algo como uma corretagem, usual em negócios com imóveis e mesmo empresas. Mas R$ 79,9 milhões para isso?
Agora vamos pensar juntos: a atual direção dos Correios deve ficar só até o final do governo Temer. Um ano, no máximo. O serviço dessa assessoria nem aparecerá. Não será usado. E mesmo se fosse, de onde os Correios tirariam dinheiro para comprar empresas? Guilherme Campos e Kassab não vivem falando em déficit?
O caso dos R$ 850 milhões já está nas mãos do TCU e da PGR. O SINTECT-SP vai se juntar à Frente Parlamentar em Defesa dos Correios para chamar audiência pública e exigir apuração rigorosa dessa atividade pra lá de suspeita.
Onde está o dinheiro?
R$ 850 milhões aqui, R$ 60 milhões ali, e o dinheiro dos Correios vai escoando. Quando você ouvir a direção da empresa dizer que há déficit financeiro, que a culpa é do trabalhador, que os gastos com salários estão muito altos, que tem que acabar com o convênio médico, etc., lembre desses contratos e tente deduzir para que eles servem.
É assim que funciona o poder no Brasil. O governo divide os ministérios e as estatais entre seus aliados, como pagamento por apoio, em barganhas eleitorais dignas de Al Capone.
Aí uns políticos ganham de presente os Correios. Pegam uma empresa com 350 anos de história, com empregados que estão há 20, 30, 40 anos ajudando a mantê-la viva e eficiente, e se acham donos dela.
Passam a inventar situações e a ditar planos, com a privatização sempre como estratégia, tratando os empregados como reles detalhes, idiotas para serem escravizados e calados para não atrapalhar seus planos.