Em reunião, Diretor da Postal Saúde mostra que não entende da área e despreza o trabalhador
Notícia publicada dia 07/04/2022 17:45
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O militar aposentado que ganha um belo salário adicional nos Correios manteve como reunião uma assembleia cancelada pela justiça para, supostamente, responder dúvidas dos beneficiários
A assembleia prevista para 24 de março passado, convocada pelo Postal Saúde para discutir e aprovar mudança da ECT de mantenedora para patrocinadora, foi suspensa por liminar solicitada por representantes da categoria.
A mudança acabaria com a obrigação legal da ECT de manter 50% dos custos do plano de saúde e levaria a ainda mais o custeio para o beneficiário. É bom lembrar que o custeio de 50% foi imposto pela empresa, com ajuda do STF. Antes ele era de 70%.
Diretor se entrega
O Diretor de Plano de Saúde da Postal Saúde, Freibergue Rubem do Nascimento, decidiu manter a reunião para, supostamente, esclarecer dúvidas dos beneficiários.
Que tipo de esclarecimentos se pode esperar de um militar aposentado que ocupa cargo de confiança na Postal Saúde desde novembro de 2021, por indicação política do governo Bolsonaro? E que, perguntado se tem alguma experiência na área da Saúde, respondeu que não sem titubear?
Ele é um dos mais de 8 mil militares com cargo público recebendo salário duplo. Ou seja, está no grupo em que a maioria defende o governo, suas políticas de destruição dos direitos dos trabalhadores e do patrimônio público em benefício dos empresários e especuladores. E absurdas do bolsonarismo como a defesa da ditadura militar e os torturadores que nela atuaram, entre eles Brilhante Ustra, ídolo do Bolsonaro.
Perguntas, supostas respostas e subterfúgios
Ao questionamento dos valores cobrados pelo Postal Saúde, Freibergue emitiu a única concordância com os trabalhadores presentes na reunião. Disse que são os ecetistas que ganham pouco.
Chegou a dizer uma frase que beira o absurdo, tentando convencer dizendo que “todos os empregados devem sangrar pra que a empresa fique forte”, bizarro!
No demais respondeu as questões com argumentos empresarias, sem a mínima preocupação social ou com as condições de vida e a dignidade do trabalhador dos correios. Se irritou quando se viu sem argumentos, dizendo que não concordava com as reclamações dos beneficiários, que estavam sendo simplistas, e que as questões tinham caráter “ideológico e político”.
Veja algumas dessas questões e suas respostas, extraídas da ata da reunião:
A Postal Saúde pratica valores muito acima do mercado, mesmo recebendo aporte de 50% da mantenedora. Por quê?
Para Freibergue os empregados não podem apenas observar os valores. Precisam ver os diferenciais da Postal Saúde. Citou exemplo um beneficiário da Bahia que precisava ser atendido de forma urgente em São Paulo/SP, e que a Postal Saúde providenciou a locomoção deste empregado, de avião, e que nenhum outro plano faz isto. Ao ouvir que tal argumento não é válido, por ser uma exceção da exceção, respondeu que o custo do plano é alto pois tem abrangência nacional. Também foi refutado pelos beneficiários, pois a abrangência é restrita e condicionada. Foi então que, sem argumentos, resolveu apelar para o argumento de que o problema está nos baixos salários dos ecetistas.
Qual sua opinião sobre a vontade da empresa, em deixar de ser Mantenedora e virar Patrocinadora?
Para Freibergue trata-se de uma ótima decisão, pois vai auxiliar na flexibilização dos controles da Operadora, além de trazer uma ótima economia para os Correios.
“Vocês querem trabalhar em uma empresa fraca ou numa empresa forte? Todos querem trabalhar em uma empresa forte, e por isto, sabemos que todos vocês estão sangrando para conseguir pagar o plano de saúde, mas tem que pagar o preço para ter uma empresa forte”, disse ele mais à frente.
Qual seria esta economia?
Freibergue disse que atualmente os Correios não estão suportando com 50% conforme, segundo ele, é o valor definido por decisão judicial, e sim com 58% do custo do plano de saúde, e, transformando-se em Patrocionadora, por força de contrato, seria obrigado a custear apenas, no máximo 50%, o que traria uma economia para a Empresa.
Isso trará prejuízos aos empregados com aumento de custos para os beneficiários?
Freibergue disse que irá se esforçar ao máximo para “fechar a torneira”, reduzindo custos, para que não haja este aumento nas mensalidades.
OBS: é óbvio que se a ECT reduzir o repasse, os próprios beneficiários terão que arcar com este déficit. E que reduzir custos significa reduzir a abrangência do plano, o número de médicos e hospitais e aumentar a coparticipação e a mensalidade.
O Decreto Legislativo 26/2021 sustou os efeitos da Resolução 23 da CGPAR, que estabelecia diretrizes para o custeio paritário de benefícios de assistência à saúde autogeridos pelas empresas estatais. Com isso a Postal Saúde/ECT deveria retornar para a cobrança de apenas 30% (trinta porcento). Por que não fez isso?
Uma representante da área jurídica da Postal Saúde disse que, para a Postal Saúde, isto é uma questão de narrativa, e que eles julgam que não são obrigados a aplicar esta redução.
A Postal Saúde irá devolver os valores recolhidos indevidamente dos beneficiários em várias situações no passado, incluindo em dezembro/2021 onde houve a cobrança “dobrada” das mensalidades?
Freibergue se limitou a dizer que as cobranças indevidas foram oriundas de gestões anteriores.
Antes da criação da Postal Saúde, havia no Correios Saúde quase o dobro de beneficiários que se tem hoje. Os gastos anuais com o plano de saúde era de 400 milhões, e logo após a criação da Postal Saúde, o custo foi para 1,8 bilhões. Qual seria o motivo?
Para Freibergue, o motivo do aumento foi roubo das gestões anteriores.
Toda essa diferença de 1,4 bilhões foi por roubo?
Sim, afirmou Freibergue, reiterando que foi nas gestões anteriores.
Por que a Postal Saúde, com tanta certeza que houve roubo na gestão anterior, nunca entrou na justiça para reaver estes valores?
Freibergue disse que de fato a Postal Saúde nunca judicializou, mas que está pensando em judicializar. E que a Postal Saúde criou um Estatuto de Sindicância e que irá apurar estes roubos. E disse: “Mas não temos poder de polícia, quando eu estava no exército eu tinha poder de polícia, aqui eu não tenho.” “Mas tem o dever da vigilância”, questionou um beneficiário. “Sim, mas todo mundo pode fazer esta vigilância,” respondeu Freibergue. “Mas como fazer esta vigilância se vocês não divulgam as informações?”, questionou outro beneficiário, sem ser respondido,
Os Correios, mesmo com lucro recorde de 3,7 bilhões de 2021, está se empenhando para tentar mudar o Estatuto para reduzir sua participação no plano de saúde e repassar ainda mais custo para os empregados. Por que isso?
Freibergue disse que a empresa está certa e deve reduzir custos. E disse: _“Não tem jeito cara, para consertar este transatlântico que muita gente se locupletou com dinheiro, porra, tu ta pagando, tu tem dúvida que ta pagando isto daí? Tem dúvida? Tem dúvida que esta despesa foi fomentada por roubo? A empresa investiu em jogos Panamericanos e tem gente que está morando na cobertura rapaz. Tu tem dúvida disto? E é difícil trazer de volta este transatlântico. Temos que colocar este trem no trilho, porque senão, vai pro buraco, e eu te digo. Muito empregado vai ser prejudicado por roubo.”_
Recentemente a Postal Saúde/ECT expulsou os aposentados do plano, imputando-lhes um custo dobrado, sem nenhuma contrapartida da ECT e pela tenta aumentar a mensalidade para todos. Isso é modernização ou indica intenção velada de extinção do plano?
Freibergue disse: “Nós aqui, nós pegamos todos os indicadores da ANS, reunimos toda a Postal, fizemos vários trabalhos para cada indicador daquilo, porque não tava legal, e vamos apurar isto daqui.” “A ANS não vai deixar o plano acabar assim, vocês estão sendo simplistas”.
A ANS deixou vender a Amil para uma empresa que não tinha lastro, quem garante que ela irá se importar com isto?
Freibergue ignorou esta argumentação e não respondeu.