Instituições empresariais fazem concurso como forma de incentivar a privatização dos Correios
Notícia publicada dia 29/08/2018 12:31
Tamanho da fonte:
Ligadas a grupos empresariais, partidos políticos empresariais e grupos religiosos conservadores, centrados na perpetuação das diferenças e da exploração econômica sobre a os desprivilegiados, as instituições lançaram o concurso “Como Privatizar os Correios?” São elas: Rede Liberdade, Instituto Mises Brasil, Centro Mackenzie de Liberdade Econômica e Instituto Liberal de São Paulo.
É lamentável que instituições que se propõem sérias, mesmo sendo representantes do pensamento liberal/empresarial capitalista, se deem a esse papel. O concurso que inventaram é uma farsa. Uma forma de propaganda, de incentivo à privatização dos Correios e de criar ideologia para convencer a população.
Livre iniciativa?
Os organizadores do “concurso” e os participantes seguem o pensamento liberal. São defensores da livre iniciativa, a serviço da manutenção e fortalecimento do capitalismo e sua estrutura desigual, predatória e, enfim, da exploração da classe trabalhadora e do privilégio dos ricos capitalistas.
Em sua versão neoliberal, querem o esvaziamento do Estado, com a privatização das estatais e dos serviços públicos como saúde, educação, transporte, água e esgotos, energia elétrica, moradia, etc.
Mas o que é o Estado?
É o organizador das contribuições de toda a população e das empresas que formam uma sociedade. Sua função é usar esses recursos em prol da sociedade, garantindo a ela os serviços públicos que necessita, e pelos quais ela paga em forma de impostos e outras contribuições, como o INSS.
Os liberais querem o esvaziamento do Estado enquanto prestador de serviços à população. Para que? Para dar mais áreas para os empresários explorarem, lucrarem e enriquecerem. Mas eles propõem o fim do pagamento de impostos pela população? Claro que não. Querem que o Estado continue arrecadando dinheiro do povo, mas para ajudar as empresas e os empresários a enriquecerem.
Ao vencedor, as batatas…
O trabalho vencedor do concurso é uma peça de retórica vulgar. Mostra completo desconhecimento da realidade dos Correios e se baseia nas ideias propagandeadas pelos privatistas há muito tempo.
Seus principais argumentos estão baseados no relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre a autoria que fez nas contas e ações dos Correios no período de 2011 a 2016.
Mas só olha para o que interessa, citando trechos da peça que reproduzem argumentos da ECT, e não conclusões dos auditores.
Ignora dados fundamentais, como o repasse indevido de R$ 6 bi ao governo e suas consequências, como a falta de recursos para investimento, que os auditores citam como fundamental para a queda de desempenho. Bem como a crítica à má administração, ao excesso de cargos indicados com altos salários, a problemas internos como o controle das compras e a fiscalização pelo mesmo setor.
Propaganda do que já vem sendo feito
O autor propõe, é claro, a quebra do monopólio postal. A revogação do estatuto e extinção da ECT enquanto empresa pública. E sua transformação em SA, com venda de ações no mercado.
Qual a novidade dessas propostas? Já há, inclusive, legislação aprovada que possibilita a transformação em SA. É pura propaganda do que já vem sendo feito pelos governos neoliberais!
Isso fica evidente também em sua proposta de “privatização gradual”, com criação de um órgão governamental para controlar o processo, ou seja, para socorrer com dinheiro público os entes privados que assumam as partes privatizadas.
A suposta ideia genial só reproduz as ações do governo e das direções da ECT, em especial as duas últimas, entre elas:
●ausência de concurso e contratação;
●extinção de cargos, terceirização de mão de obra e de toda uma área do serviço postal, como é o caso da triagem e do transbordo;
●terceirização já antiga dos transportes e dos motoristas;
●desinvestimento, extinção de produtos (como o E-Sedex), piora proposital no atendimento, como meios de favorecer a entrada das empresas privadas no setor e destruir a imagem dos Correios frente a população.
Tudo isso vem sendo feito e nada mais é que privatização gradual.
Monopólio estatal ou privado?
O autor chama o monopólio postal de privilégio. Diz que ele resulta em prejuízos a toda sociedade. É muito desprezo pela população brasileira, pelo atendimento dos mais pobres e necessitados, pelo direito à comunicação postal e pela segurança nacional. Mas não espanta, capitalista liberal pensa assim mesmo. Segurança pra que? Querem mesmo é que as multinacionais tomem conta de tudo.
O mais irônico é que o autor do texto não tem resposta nem proposta para o atendimento dos serviços deficitários e áreas carentes, que o monopólio postal garante – a chamada contrapartida social.
Deixa a resposta como algo etéreo, quase divino, acreditando “que o livre mercado achará saídas”. As saídas do mercado são exclusivamente para aumentar os lucros privados, e nunca para atender a população com qualidade, sobretudo a carente. Esse atendimento é papel do Estado, que os liberais capitalistas querem destruir (para o povo) e pôr a serviço deles.
Sua proposta de separar as áreas carentes e rurais e destinar verbas a elas é o que o monopólio faz hoje, nada mais. O autor dá voltas e chega ao mesmo lugar. Propõe a troca do monopólio estatal por um monopólio privado garantido com dinheiro arrecadado com impostos das empresas. Ou seja, dinheiro da população.
Esse concurso-propaganda e seu resultado reforça a necessidade da luta da categoria e de todos os trabalhadores para impedir o avanço dos empresários sobre os bens públicos, em busca de mais lucros e mais riquezas, o que só provoca mais pobreza, desigualdade e violência.
É nessa luta que estamos e chamamos toda a categoria a se unir. Não à terceirização e à privatização nos Correios!!!