Marcha das Margaridas levará mais de 100 mil a Brasília no dia 13
Notícia publicada dia 10/08/2019 10:57
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Desde 2000, a Marcha das Margaridas leva as pautas das mulheres do campo a Brasília. Em sua sexta edição, as trabalhadoras do campo apresentam suas reivindicações para a construção de uma sociedade que respeite os gêneros e caminhe para construir a cultura da paz.
Por Marcos Aurélio Ruy
“As trabalhadoras se organizam em coletivos, comissões, nos sindicatos, nos movimentos sociais e em movimentos pela emancipação feminina”, afirma Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e secretária-geral da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado da Bahia (Fetag-BA).
De acordo com a sindicalista baiana e educadora do campo, as reivindicações das trabalhadoras do campo têm algumas questões específicas. Mas, no geral, as pautas reivindicadas são semelhantes às trabalhadoras urbanas, como a luta pelo fim da violência e por respeito.
A Marcha das Margaridas é uma homenagem à sindicalista Maria Margarida Alves, assassinada em 12 de agosto de 1983, a mando de latifundiários de Alagoa Grande, na Paraíba. Ela era presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade. Foi morta com uma escopeta calibre 12 que atingiu e deformou seu rosto.
“A semente plantada pela Margarida se espalhou pelo Brasil e nós continuaremos a sua luta para acabar com a violência de gênero e a discriminação no País. Hoje, somas milhões de margaridas contra a injustiça e o preconceito”, afirma Celina Arêas, secretária da Mulher Trabalhadora da CTB.
Para a sindicalista mineira e professora, o tema da marcha deste ano – “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência” – já mostra a marcha como uma manifestação, que ocorre de quatro em quatro anos, fundamental para a compreensão da luta das mulheres.
“O tema escolhido já mostra que a Marcha das Margaridas é a manifestação mais importante do mês de agosto, mostrando para o Brasil e para o mundo a luta pelos direitos das mulheres do campo, das florestas e das águas e por alimentos saudáveis em nossas mesas”, ressalta.
O tema das marchas de 2000, 2003 e 2007 foi “Razões para marchar: contra a fome, a pobreza e a violência sexista”. Já em 2011, passou para “Desenvolvimento sustentável com justiça, autonomia, igualdade e liberdade”. Em 2015, 100 mil mulheres entoaram pelas ruas da capital federal o lema “Margaridas seguem em marcha por desenvolvimento sustentável com democracia, justiça, autonomia, igualdade e liberdade”.
Vânia indica que a luta das mulheres do campo vem ganhando espaço no movimento sindical rural, principalmente no combate à violência e à discriminação de gênero. “Primeiro, instituímos a cota de 30% para as mulheres e, recentemente, a paridade dentro do movimento”.
Com o passar dos anos e o crescimento da participação feminina, diz ela, “temos construído instrumentos que debatam e garantam a maior participação das mulheres e de temas que permeiam as nossas pautas”. E “isso contribui para diminuir as desigualdades de gênero, embora tenhamos ainda um longo caminho a percorrer, principalmente com os retrocessos que estamos vendo desde o golpe de Estado de 2016 e ainda mais com o desgoverno Bolsonaro”.
A Marcha das Margaridas foi criada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e tem coordenação descentralizada, com a participação das 27 Federações de Trabalhadores na Agricultura (Fetags) e pelos mais de 4 mil Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTRs). Também conta com a participação de inúmeras entidades de defesa dos direitos das mulheres e de centrais sindicais.
“Além do combate à violência e à discriminação, a luta pela democracia e pela soberania alimentar foram adicionadas à pauta das mulheres do campo”, diz Celina. “Queremos uma sociedade livre da violência, que garanta o acesso à terra, a água e respeite os povos indígenas e o meio ambiente.”
Vânia, que é agricultora familiar, acrescenta a questão da educação como uma das formas de manter a juventude no campo. Para ela, “a educação pode ser um instrumento que ajude as pessoas a desenvolverem um senso crítico, pensarem de forma diferente, iniciar um processo emancipatório”.
Porém, a educação “sozinha não acaba com o capitalismo e com o patriarcado, principais responsáveis pelos problemas enfrentados pelas mulheres, pelos indígenas, pelos negros, pelos LGBTs e pela juventude”, reforça. “A educação do campo tem em sua essência uma concepção que questiona o capitalismo e propõe uma sociedade diferente.”
Por isso, ela afirma que a educação “pode ser um importante instrumento para combater a violência, o patriarcado, o machismo e as diversas formas de intolerância e preconceitos, mas ela ainda não chegou a todas as escolas do campo e para a população campesina”.
De acordo com Vânia, “ser mulher na sociedade atual por si só já é um grande desafio e o sindicalismo não pode estar alheio às desigualdades de gênero. Crimes como o que aconteceu com Margarida Alves ainda são muito presentes no campo, principalmente em áreas de maiores conflitos agrários”.
Isso é causado pela “desigualdade social produzida pelo sistema capitalista, que é a principal responsável pelo alto índice de violência”, afirma. Então, “resistir à opressão em defesa da justiça, da liberdade e dos direitos iguais formam a essência do nosso movimento”.
Celina diz que a expectativa para a 6ª Marcha das Margaridas é “a participação de ao menos 100 mil mulheres de todos os cantos do país”. Como diz o Canto das Margaridas: “Nós que vem sempre suando / Este país alimentando / Tamos aqui pra relembrar / Este país tem que mudar”.