Antirracismo cresce no mundo e governo brasileiro vai na contramão
Notícia publicada dia 04/06/2020 11:57
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Os protestos nos Estados Unidos explodiram após o assassinato do negro George Floyd, ganharam solidariedade na Europa e chegaram ao Brasil enquanto o governo brasileiro dirige com racismo a fundação que deveria combatê-lo!
A Fundação Zumbi dos Palmares é responsável por zelar pelos interesses da comunidade afrodescendente. O governo brasileiro brigou na justiça para colocar em sua direção o jornalista negro Sérgio Camargo. Ele acredita e já declarou que a escravidão foi “benéfica para os descendentes” dos escravos. Em áudio vazado recentemente, disse a assessores sobre o sumiço de um celular seu: “Quem poderia ter feito isso? Os vagabundos do movimento negro, essa escória maldita”.
Camargo expõe a olho nu o racismo estrutural existente no Brasil, que acostumou-se a relativizar como brando. E escancara o projeto retrógado do atual governo, que tem no racismo declarado um de seus substratos.
A explosão americana
Nos Estados Unidos o racismo é declarado. A grande maioria é branca e tudo é separado. O sistema educacional é onde há mais integração devido a políticas afirmativas aprovadas ao longo dos anos.
A população negra é minoria, mas maioria entre os pobres. A violência herdada da escravidão persiste, é explícita e vitima a porção mais pauperizada e carente do povo daquele país tido como a principal democracia do planeta.
O assassinato do homem negro George Floyd por um policial branco chocou o mundo inteiro e acendeu um estopim. A cena de quase dez minutos provocou choque e horror pela desumanidade. O policial comprime com o joelho o pescoço de Floyd que algemado, desarmado e imobilizado sobre a calçada, implora por sua vida dizendo “por favor, não consigo respirar”. Mas o policial segue impassível com a naturalidade de quem mata uma mosca.
O vídeo se espalhou e os Estados Unidos entraram em convulsão, agora reverberada em cidades europeias e brasileiras. O assassinato foi muito simbólico da desigualdade social que coloca a população negra nos estratos mais vulneráveis, submetidos às piores condições sociais e a toda ordem de violência estatal e policial.
Genocídio brasileiro
Qualquer semelhança com a realidade brasileira não é mera coincidência. Aqui também há a combinação letal de racismo e brutalidade policial. João Pedro, Ágatha Félix, Evaldo dos Santos, Marielle Franco, o pedreiro Amarildo e milhares de jovens assassinados diariamente, incógnita e impunemente nas periferias pobres do país são prova cabal do racismo estrutural exposto às avessas pelo presidente da Fundação Zumbi dos Palmares.
A população negra no Brasil é maior que nos Estados Unidos. Segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2018, dos 207,8 milhões de moradores do país, 46,5% se declaram pardos, 9,3% pretos e 43,1%, brancos.
Nos Estados Unidos há uma grande diferença fundamental. O último censo oficial divulgado indica que 72,4% da população é branca. Desse percentual, 88% tem ancestralidade Europeia completa. Ou seja, lá a miscigenação é pequena e 12,3% da população é declarada negra.
Não obstante os negros serem maioria entre os pobres nos EUA, a desigualdade econômica e social e a dimensão da miséria no Brasil invocam diferenças enormes no nível de violência enfrentado por essa população, inclusive policial.
Aqui o racismo tem ditado a dinâmica das relações sociais desde a abolição da escravidão, há 123 anos. Com isso, não bastassem as mazelas sociais que afligem historicamente a população negra por meio do subemprego, do desemprego, da falta de moradia, dos serviços precários de saúde e educação, da falta de oportunidades e da discriminação racial nos ambientes sociais, é verificável a vigência de um projeto de extermínio da população negra, por parte do estado brasileiro, nas periferias das cidades brasileiras.
Vítimados pelo coronavirus
A inexistência de um sistema público de saúde é a base da maior letalidade do vírus na população negra nos EUA. Foi o que mostrou uma pesquisa conduzida pelo laboratório APM Research Lab, segundo a qual os negros têm morrido de Covid-19 quase três vezes mais do que os brancos.
O estudo, batizado de “A Cor do Coronavírus”, escancara a desigualdade racial no país norte-americano, onde a saúde privada é caríssima e quase inacessível para o povo pobre, preto na maioria.
Isso sugere que o assassinato brutal de George Floyd por um policial branco, filmado e divulgado, desencadeou uma revolta generalizada porque aflorou uma conjunção de descontentamentos, algo parecido com os protestos que estouraram no Chile em 2019 após um reajuste de quarenta centavos no transporte público.
A nova realidade engendrada pela pandemia deu sua contribuição ao expor as desigualdades à flor da pele e tirar os horizontes da população que sobrevivia de um emprego que talvez não exista mais, com salários diminuídos e cortados, vitimada pela ausência de assistência social e ainda mais ameaçada pela violência estatal.
Vai explodir aqui?
A ONU alerta para o impacto desproporcional que a covid-19 está tendo entre as populações negras e cita o caso do Brasil como exemplo de tal fenômeno. Afro-brasileiros em São Paulo têm 62% mais chance de morrer da Covid-19 que brancos.
Em comunicado, a organização destaca o “aumento das disparidades” na forma como a Covid-19 está afetando as comunidades, e o grande impacto desproporcional que está tendo sobre as minorias raciais e étnicas, incluindo pessoas de ascendência africana. Para a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos Michelle Bachelet, isso expõe “desigualdades alarmantes”. Ela apontou ainda como tal realidade está alimentando os protestos generalizados.
Por tudo isso, por aqui também pode haver explosão. Indicação disso já foi dada com a manifestação de mães de filhos mortos em ação policial no Rio de Janeiro e em atos realizados em várias cidades brasileiras. Pode ser que, por aqui, o estopim esteja fumegando também e logo acabe. O governo racista e seu capataz negro da Fundação Zumbi dos Palmares que se cuidem!
Por: FINDECT