SINTECT/SP se reúne com Guilherme Campos e exige nenhum direito a menos
Notícia publicada dia 16/11/2016 17:22
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A Diretoria do Sindicato ouviu as explicações do presidente dos Correios sobre seu diagnóstico da situação da empresa e seu projeto para os Correios. O SINTECT-SP deixou claro que não aceita nenhuma retirada de direitos e reivindicou melhorias imediatas nas operações, para melhorar as condições de trabalho da categoria.
A reunião com o Presidente dos Correios Guilherme Campos ocorreu a pedido da Diretoria do sindicato na segunda-feira (14/11), na sede do SINTECT-SP. A Diretoria quis entender que rumos a direção atual pretender imprimir aos Correios, e exigir que os trabalhadores e seus sindicatos sejam ouvidos antes da implantação de qualquer mudança e, sobretudo, reafirmar que a categoria em todo o país não aceitará nenhuma retirada ou limitação de seus direitos conquistados na luta.
Veja a seguir um pouco do que foi discutido
Situação da empresa:
Guilherme Campos reafirmou o diagnóstico que tem apresentado à imprensa. Segundo ele a situação é crítica. O faturamento deste ano superará os R$ 20 bilhões. No Ano passado foi R$ 18 bi. Está crescendo, mas, segundo ele, os custos aumentam mais, por isso há previsão de déficit para este ano na casa de R$ 2 bi.
A Diretoria do Sindicato não recebeu nenhum documento oficial que comprove essa situação. Mas lembrou, e Campos concordou, que se ela existe a culpa está nos ralos criados pela má gestão dos últimos anos, que sugam recursos diariamente, em inúmeros desvios de verbas, na desorganização interna e nos repasses exagerados para os cofres do governo (mais de R$ 6 bi), que jamais poderiam ter ocorrido se realmente existisse uma crise financeira, e precisam voltar como investimento. O trabalhador tem feito sua parte para a empresa crescer, até demais devido à falta de funcionários nos últimos anos, não tem culpa pelo desequilíbrio e não pode pagar o pato.
Projeto para os Correios:
O presidente da empresa disse que contratou uma consultoria com experiência internacional na área postal para fazer esse projeto, absorvendo o que foi feito mundo afora e deu certo. Para ele, a empresa tem de estar focada em entrega de encomendas e logística para se tornar uma estatal rentável e independente financeiramente.
O Sindicato reconhece que a empresa tem de se modernizar e se adequar à realidade. Que precisa reestruturar os negócios, ser mais agressiva no mercado, com oferta de qualidade, rapidez e segurança, para reforçar a confiança e simpatia que a população deposita e sempre depositou nela. Mas essa reestruturação tem de ser feita SEM o emprego da terceirização e da privatização. E não pode estar focada em cortar custos com mão de obra, com cortes no já reduzido quadro de funcionários e ataques aos direitos da categoria. Isso não será tolerado pelo Sindicato.
Para tornar a ECT mais eficiente e lucrativa, sua diretoria tem de atacar os ralos e os desvios, acertar a hierarquia e valorizar os trabalhadores, dando a eles condições adequadas para o desempenho de suas funções, além de equalizar os salários, reduzindo ganhos exorbitantes hoje existentes.
Medidas emergenciais:
Enquanto aguarda a nova consultoria apresentar seu projeto, a diretoria encabeçada por Guilherme Campos tem tomado medidas emergências, segundo ela para equalizar as contas e atacar os problemas de gestão e operacionais.
PDV: Campos apresentou seu plano de demissão voluntária, ou incentivada (PDV ou PDI). A meta, segundo ele, é envolver 13 mil empregados com mais de 55 anos e gerar uma economia de R$ 850 milhões. Seu foco é o setor administrativo. Um empréstimo será feito para começar a pagar os inventivos, que se estenderão por 10 anos.
Para o Sindicato, é impossível reduzir o já defasado quadro de funcionários na área operacional. Isso seria extremamente penoso para os trabalhadores da empresa e não ajudaria a recuperar a situação financeira, porque elevaria o nível já altíssimo de adoecimento e afastamento.
A Diretoria do Sindicato insistiu na necessidade de concurso público para repor o quadro de funcionários e melhorar as condições de trabalho.
Postal Saúde: O presidente dos Correios reafirmou seu diagnóstico de que a situação do convênio médico da categoria é grave, sobretudo porque o custo está muito alto. Mas não quis se aprofundar no tema porque a Comissão paritária responsável por ele está em plena atividade, e deve apresentar propostas para o modelo gerencial e a sustentabilidade do plano.
A Diretoria do Sindicato se reunirá nos próximos dias com seus dois representantes nessa comissão para ter um quadro dos debates e passá-lo aos trabalhadores. Mas adiantou a Campos a exigência de que a empresa honre integralmente os repasses que tem de fazer, enquanto mantenedora do plano, e que não aceitará cobrança de mensalidade e retirada de dependentes e parentes do convênio.
DDA, OAI X entrega matutina: A Diretoria do Sindicato questionou o DDA e o OAI implantado nos CDDs. São medidas que visam exclusivamente a aumentar a produtividade e a carga de trabalho por trabalhador. E o OAI é um retrocesso a procedimentos de 20 anos atrás, já superados pela experiência dos carteiros.
Os dirigentes do Sindicato insistiram na implantação universal da entrega matutina em São Paulo. E lembroaram locais em que ela trouxe enormes ganhos para os trabalhadores e para a empresa, com redução dos assaltos a zero e a eliminação de sobras.
Mais escoltas: A situação dos CEEs, que sofrem diariamente com os assaltos, também foi ressaltada. O Sindicato reivindicou o aumento do número de escoltas como forma de prevenir a violência contra os trabalhadores e os prejuízos à empresa e aos usuários. O problema dos assaltos pode ser de segurança pública, mas uma empresa focada no negócio de entrega de encomendas não pode lavar as mãos e deixar os trabalhadores à própria sorte nas ruas. Cabe a ela investir em medidas que protejam a integridade, a saúde física e mental e a vida dos seus empregados.
Agências e Banco Postal: O prazo para inscrição na licitação para o Banco Postal terminou no dia 14/11, e nenhuma instituição financeira se inscreveu, segundo Guilherme Campos. Ele disse que ainda serão feitas tratativas com o atual operador, o BB, mas que o banco postal deve ser extinto.
Com ou sem Banco Postal, o Sindicato deixou claro que as agências necessitam de reforço na segurança, com instalação de portas giratórias e contratação de vigilantes, para coibir os assaltos e proteger a integridade dos trabalhadores.
Sindicato na defesa da categoria
Para a Diretoria do Sindicato, a reunião com Guilherme Campos foi importante para conhecer suas intenções e enfatizar que os trabalhadores querem ser ouvidos.
Quem trabalha tem conhecimento das operações e tem de ser considerado antes da implantação de qualquer projeto ou mudança. As decisões não podem mais vir de cima pra baixo, porque acabam resultando em medidas equivocadas e prejudiciais para o trabalhador, e ainda não melhoram em nada a empresa.
O projeto que vier a ser implantado na ECT não pode ser mais uma repetição da receita inventada há muitos anos, como parte do neoliberalismo, focada em aumentar os lucros das empresas às custas do aumento da exploração sobre os trabalhadores. Não vamos engolir isso!
O SINTECT/SP deixou bem claro ao Presidente dos Correios que os trabalhadores em todo o país continuarão na luta por melhorias nas condições de trabalho e salários, por nenhum direito a menos, contra a terceirização e a privatização, em defesa de uma empresa 100% pública e estatal.
E que defendem um projeto de Correios que o resgate para a condição de empresa mais confiável para os brasileiros, lugar que sempre ocupou e de onde só saiu devido à má gestão e aos desvios existentes, inclusive de recursos para os cofres do governo.
O trabalho nos Correios adoece, mostra pesquisa feita pelo Sindicato
Depois de afirmar que o absenteísmo é o principal problema dos Correios e ser bombardeado pelos trabalhadores e seus Sindicatos, Guilherme Campos voltou atrás e reconheceu que o trabalho dos Correios adoece.
Uma prova contundente disso foi apresentada pelo SINTECT-SP no livro “Saúde e trabalho nos Correios”, escrito a partir de uma pesquisa coordenada pelo Médico do Trabalho e Psiquiatra Francisco Drumond, que envolveu técnicos de saúde, sindicalistas, delegados sindicais de base e profissionais relacionados ao suporte jurídico do Sindicato.
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Quando o Sindicato conduziu o intenso trabalho coletivo que resultou no livro, visava a provar o que já sabia: que as condições de saúde do ecetista deterioram porque o trabalho nos Correios, por suas características, acaba com as condições físicas do trabalhador.
Ao final, ficou comprovado que a carga, o peso e os deslocamentos geram graves problemas osteomoleculares, que fazem com que a maioria dos ecetistas se aposentem precocemente, por invalidez.
Tal situação está piorando nos últimos anos. O incremento da violência, com um número cada vez maior de assaltos, acrescentou a esses problemas ortopédicos os de ordem psicológica.
Os assaltos têm a ver com a entrega de encomendas, que cresceu muito com as vendas por internet e se tornou o carro chefe da empresa. A ECT passou a lucrar com essas entregas, mas não teve até hoje preocupação em resolver o problema que elas trouxeram, que foi o aumento dos assaltos aos trabalhadores e veículos que vão às ruas com objetos de valor, bem como a unidades de Correios.
Um fator extra agravou o cenário. A empresa parou de realizar concursos para repor o quadro de funcionários que vai saindo e, com isso, deixou de acompanhar o aumento do serviço oriundo do crescimento da população, das cidades e das entregas.
Hoje há menos trabalhadores do que o necessário para dar conta do trabalho existente na empresa. Há desequilíbrios e desigualdades, é verdade. Mas isso é mais um resultado da má administração que se repetiu nas últimas diretorias. Não significa que há sobra de trabalhadores, muito pelo contrário.
Fica evidente, com isso, que PDV não é solução para a área operacional. Nem DDA e OAI. É preciso tratar o trabalhador como ser humano, e não praticar capitalismo selvagem e, como um vampiro, sugar até a saúde de quem vende sua força de trabalho para sobreviver. Empresa moderna, eficiente e lucrativa tem funcionários valorizados, incentivados, motivados e sabe construir um ambiente favorável à colaboração e ao trabalho de equipe.